corpo de prova / tempo de cura (specimen / cure time)
instalação artística
2023–atual
idealização com Gabriela Leandro Pereira
Através de uma abordagem poético-crítica informada pela racialidade e pela diáspora africana no Brasil, a proposta visa trazer para a centralidade um debate sobre arquitetura que tem como ponto de partida imagens-pensamentos formadas pelos termos “corpo de prova” e “tempo de cura”, retirados do manual de normas técnicas sobre modelagem e resistência do concreto (NBR 5738). A norma estabelece o colapso e o arruinamento do corpo de prova curado, como condição para a aferição das propriedades materiais do concreto. Esse procedimento inspira o caminho do exercício imaginativo em torno da história material das raças (Anne Cheng), sobretudo porque quando traduzidos para o português, “specimen” e “cure” correspondem também a noções de “body” e “healing”. Partindo da Améfrica (Lélia Gonzalez), a provocação posiciona a arquitetura enquanto prática profissional e cultural (bell hooks/LaVerne Wells-Bowe) elaborada no interior da trama dinâmica e transatlântica empreendida pelo evento racial (Denise Ferreira da Silva). Nesse mesmo contexto, as formas e os modos de transmissão de saberes transcriados (Leda Maria Martins) estão assentados em objetos, corpos, lugares e imaginários, sustentados por incontáveis tecnologias. A gramática do concreto evoca a ambivalência implicita nos mecanismos do poder que opera essas relações: corpo, modelagem, pressão, esforços, ruptura, deformação, choque, endurecimento, tempo, cura e vibração são algumas das palavras que orientam os procedimentos construtivos e dão pistas tanto da brutalidade dos encontros (Edouard Glissant) decorrentes do trauma do colonialismo e da escravidão, quanto da transformação e potência inventiva, que movimentam a linguagem enquanto ato performativo frente aos gestos da política da materialidade (Achille Mbembe). A proposta é um convite para imaginar uma ética disposta a des-pensar e reconfigurar a arché e modificar hierarquias espaciais produzindo imagens próprias de liberação (Muniz Sodré).
-
Through a poetic-critical approach informed by raciality and the African diaspora in Brazil, the proposal aims to bring to center stage a debate on architecture that has as its starting point thought-images formed by the terms "specimen" and "curing time", taken from the technical standards manual on modeling and strength of concrete (NBR 5738). The standard establishes the collapse and ruining of the cured specimen as a condition for assessing the material properties of concrete. This procedure inspires the path of the imaginative exercise around the material history of races (Anne Cheng), especially because when translated into Portuguese, "specimen" and "cure" also correspond to notions of "body" and "healing". Starting from Améfrica (Lélia Gonzalez), the provocation positions architecture as a professional and cultural practice (Bell Hooks/LaVerne Wells-Bowe) elaborated within the dynamic and transatlantic plot undertaken by the racial event (Denise Ferreira da Silva). In this same context, the forms and modes of transmission of transcribed knowledge (Leda Maria Martins) are settled on objects, bodies, places, and imaginaries, supported by countless technologies. The grammar of concrete evokes the ambivalence implicit in the mechanisms of power that operate these relations: body, modeling, pressure, efforts, rupture, deformation, shock, hardening, time, cure, and vibration are some of the words that guide the constructive procedures and give clues both to the brutality of the encounters (Edouard Glissant) resulting from the trauma of colonialism and slavery, and to the transformation and inventive power that move language as a performative act facing the gestures of the politics of materiality (Achille Mbembe). The proposal is an invitation to imagine an ethic willing to un-think and reconfigure the arché and modify spatial hierarchies producing its own images of liberation (Muniz Sodré).